As Meninas e Meninos que nos ensinam a lutar por uma outra educação!

As Meninas e Meninos que nos ensinam a lutar por uma outra educação!

“Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda.” – Paulo Freire*

Por Professor Carlos Eduardo Siqueira Pinheiro**

O mês de Novembro de 2015 ficará marcado pela combatividade de meninas e meninos que defenderem com unhas e dentes suas escolas do projeto neoliberal, dando uma aula aos seus professores, a sociedade e aos tucanos neoliberais, os estudantes aplicaram a maior derrota dos últimos 26 anos ao governo do Estado de São Paulo.

A maior rede educacional do Brasil, com mais de 5 mil escolas, 13 milhões de estudantes, 250 mil professores vem ao longo destes 26 anos de governos do PSDB sofrendo com problemas graves, condições de trabalho precárias para os trabalhadores na educação, salas superlotadas com até 90 alunos, prédios abandonados e com problemas estruturais, estagnação na construção de novas unidades escolares, falta de democracia e perseguições políticas, desvios de recursos e diminuição do orçamento, uma rede que necessita de socorro, que tem sido sistematicamente atacada por uma politica que privilegia o setor privado em detrimento da educação pública, gratuita e de qualidade.

A marca de 2015 é sem duvida, a luta pela educação, no inicio do ano os professores e professoras da rede estadual de ensino realizaram a maior greve da História, com 92 dias de paralisação, liderados pelo Sindicato do Ensino Oficial do Estado de São Paulo – APEOESP, que mobilizaram milhares as ruas por uma educação de qualidade, melhores condições de trabalho, aumento de salários, fim de categorias de subempregos e por mais contratações de funcionários e professores, mesmo assim após intensa mobilização o governo estadual não atendeu as demandas da categoria, e o fim da greve se deu por forte pressão dos meios de comunicação atrelados ao governo.

Fora a crise na educação, o maior Estado do Brasil com 44 milhões de habitantes representando 22% da população brasileira, sofre com uma crise hídrica onde 30% da população da maior metrópole da América do sul não tem água em suas casas, uma crise do aumento da criminalidade com crimes hediondos, roubos seguidos por morte e vem a publico forte indícios de corrupção na rede de transporte sobre trilhos (Metrô e Trem), privatização dos bens públicos, porém, com tudo isso o governo do PSDB acreditava que poderia ir além, e fechar 94 escolas, em um processo chamado de “reorganização”, que pretendia assim como no ano de 1995 realizar mudanças na rede com fechamento de escolas e deslocamento de alunos, só esta ação modificaria com  a vida de mais de 300 mil alunos.

O fato é que as mudanças tinham como objetivo atender a uma redução de gastos orçamentários, descolamentos de comunidades mais pobres de regiões em crescimento de empreendimentos imobiliários de alto padrão, favorecer a redução da rede e por consequência de professores, e o que pesquisas do próprio governo indicam atender a uma demanda crescente de alunos que migram para o setor privado de ensino no estado de SP.

O que o governo não contava era com a reação dos alunos e suas entidades de classe, como a UPES – União Paulista dos Estudantes Secundaristas e UBES – União Brasileira de Estudantes Secundaristas, que ao longo do mês de Novembro se mobilizaram em manifestações de ruas e ocuparam mais de 200 escolas por mais de 15 dias, em meio a proposta os alunos e alunas apresentaram a defesa de suas escolas, mobilizando suas comunidades e a opinião publica brasileira para sua causa contra a “reorganização”, em muitos casos professores ajudaram, as ocupações receberam doações de mantimentos, visitas de artistas, professores universitários, oficinas de diversas vertentes, realizaram almoços com pais e mães, dando exemplo de como pode ser transformador uma escola aberta para suas comunidades.

Com essas ocupações o que antes estava restrito internamente veio atona, os problemas de goteiras e vazamentos, carteiras escolares quebradas, hortas abandonadas, laboratórios fechados a mais de 10 anos, escolas sujas e mal cuidadas, falta de funcionários tudo se mostrou e fez com que os meios de comunicação mostrasse o que antes era a principal vitrine do governo do PSDB, cair por terra por abandono e falta de cuidado.

Após forte pressão e com a revelação de pesquisa de popularidade que demonstrou queda livre de 48% para 28% o governador  do estado Geraldo Alckmin veio a publico dizer que não seria mais realizada a “reorganização” escolar, ao longo do processo não foi debatido com as comunidades escolares o projeto do governo, ouve forte repressão policial aos estudantes, e os meninas e meninos em luta para defender a educação venceram o governo neoliberal de Geraldo Alckmin.

A cada dia cresce em todas as partes do mundo o valor e o papel que tem a educação na transformação social, o Brasil vive uma realidade politica muito intensa, estamos sobre forte tentativa de uma golpe por parte dos setores conservadores, a luta nas escolas de São Paulo mostram que o caminho a ser trilhado é a valorização da educação como arma da conscientização do povo e construção de novos caminhos para os que sonham e os que lutam.

*educador brasileiro. Nasceu no dia 19 de setembro de 1921, no Recife, Pernambuco. Por seu empenho em ensinar os mais pobres, Paulo Freire tornou-se uma inspiração para gerações de professores, especialmente na América Latina e na África. Pelo mesmo motivo, sofreu a perseguição do regime militar no Brasil (1964-1985), sendo preso e forçado ao exílio.

**é professor na rede estadual de ensino de São Paulo e diretor nacional de jovens trabalhadores da União da Juventude Socialista – UJS/Brasil.