FEDERAÇÃO MUNDIAL DE SINDICATOS NA HISTÓRIA
Por Gustavo Espinoza M. (*)
Saudações, caros camaradas!
O autor do artigo anexo é o ex-Secretário Geral da CGTP do Peru. Ele é um escritor e jornalista. Deixo sua intervenção à sua consideração.
Fraternais,
Valentín Pacho
Vice Presidente, FSM
OBSERVAÇÃO DO EDITOR: Louis Saillant foi o primeiro presidente da FSM de 1945 a 1968. Ele foi sucedido por Pierre Gensous. O atual Secretário Geral da WFTU é George Mavrikos. Mais informações podem ser encontradas aqui:
http://www.wftucentral.org/?
“De tudo isso deve surgir a realidade viva do internacionalismo proletário, a profunda comunidade de interesses de todos os trabalhadores do mundo e a possibilidade concreta de realizar a unidade sindical internacional entre as organizações sindicais que, em nível nacional, podem ser muito diferentes“.
-Louis Saillant
Na história dos povos, a luta dos trabalhadores sempre desempenhou um papel de liderança. O confronto de classes, sua dinâmica e sua própria força, sempre foram o pano de fundo do desenvolvimento humano. A experiência da luta dos povos contra a opressão e a violência deixou uma marca indelével em todos os confins do planeta.
A história da Federação Mundial dos Sindicatos, sua origem e suas lutas, está ligada a este processo de desenvolvimento no qual a força de milhões de homens e mulheres de todos os países, tem impulsionado a roda da história. Vamos ver
ANTECEDENTES E ORIGEM DA WFTU
Quando a Federação Sindical Mundial foi fundada em Paris, em 3 de outubro de 1945, o som rítmico de canhões e estilhaços que atormentavam o mundo desde o fatídico setembro de 1939, quando os exércitos de Hitler invadiram a Polônia e iniciaram a Segunda Guerra Mundial ainda não havia sido extinto. Entretanto, o Monstro Marrom já havia sido abatido, e o povo – os atores dessa epopéia – celebravam alegremente a vitória da paz e da solidariedade em grandes avenidas.
Alguns dias antes, em 25 de setembro3 daquele ano, a Conferência Sindical Mundial iniciou seus trabalhos na capital da França, que deveria dar origem à Central Internacional dos Trabalhadores da Classe.
À frente das lutas populares contra o nazismo-fascismo, a classe trabalhadora travou enormes batalhas praticamente por toda a Europa. Socialistas unidos, comunistas, radicais e muitos trabalhadores de outras lojas políticas, ou sem eles, haviam marcado a história com sangue e fogo. E eles se preparavam para construir um novo mundo, em paz e com justiça.
É comum ressaltar – como fazem os especialistas – que a derrota do fascismo em 1945 foi uma vitória histórica para todas as forças da democracia e do progresso, lideradas pela União Soviética. Mas, acima de tudo, foi um triunfo do proletariado da época; da Classe Operária Internacional que, em todos os confins do planeta, soube levantar-se em defesa da dignidade e da vida dos povos.
Sabe-se que, após a conflagração mundial desencadeada no período, o sistema de dominação capitalista foi severamente enfraquecido. Além da destruição material das cidades, da destruição de terras agrícolas transformadas em campos de batalha e dos problemas econômicos resultantes da guerra, houve o processo de descolonização da época. Milhões de homens e mulheres na Ásia, África e América Latina prepararam o caminho para a independência e criaram a base para um maior desenvolvimento. O papel dos trabalhadores também foi decisivo nessa batalha.
O início deste processo de descolonização gerou uma série de problemas econômicos e sociais nas grandes cidades européias. As potências coloniais se alimentavam dos produtos dos países vinculados ao seu domínio. A quebra desta cadeia de dominação gerou escassez, desemprego e depois migrações que hoje assumem dimensões consideráveis. Na época, esses fenômenos não eram percebidos em sua dimensão real. Eles surgiram mais tarde, quando o mundo colonial procurou entrar num cenário mais amplo, disputando até mesmo com os produtos e mercados metropolitanos.
Desde sua origem, a nova organização sindical – a FSM – era substancialmente diferente das organizações trabalhistas pré-existentes. Em vez de promover a “colaboração de classe”, encorajou a luta para assegurar a capacidade de ação dos trabalhadores, que estavam determinados a construir uma sociedade socialista, como já acontecia naquela época – e desde 1917 – na União Soviética. Neste espírito, a FSM concebeu a figura do socialismo no cenário futuro dos povos, e agiu de acordo com esse propósito
Como foi dito no sexto volume da História do Movimento dos Trabalhadores publicado pela Editorial Progreso, em 1981, “A fundação da Federação Sindical Mundial (FSM) foi uma grande vitória do internacionalismo proletário e um sucesso para os partidários da unidade no movimento operário internacional”. A FSM foi fundada por iniciativa da corrente revolucionária do movimento sindical, no Primeiro Congresso Mundial dos Sindicatos, realizado no final de setembro de 1945 em Paris. Delegados de sindicatos de 56 países, representando 67 milhões de trabalhadores, participaram de seus trabalhos” (1)
Entretanto, deve-se reconhecer que a FSM não surgiu como Pallas Athena do trovejante, embelezado e composto de cabeça de Júpiter. Ela mesma foi o produto de um longo processo de aproximação, processado pelas organizações sindicais dos trabalhadores dos países mais importantes da Europa engajados na luta internacional contra o fascismo. Os sindicatos soviéticos e o TUC britânico desempenharam um papel de liderança nesta tarefa.
Rubén Íscaro, o proeminente sindicalista argentino, lembra que foi em 1941, quando as bombas alemãs estavam chovendo sobre a velha Londres, que o Congresso dos Sindicatos Britânicos se reuniu em Edimburgo e resolveu estabelecer contato com o Conselho Central dos Sindicatos Soviéticos “com vistas à cooperação na luta contra a guerra” (2). As ligações entre o Walter Citrine britânico e o Nikolai Shvernik russo constituíram o início de um entendimento que seria projetado a tempo e que teria um papel decisivo naquele outubro de 1945.
Essa troca, além disso, marcou o colapso da antiga organização trabalhista anterior à guerra – a Federação Sindical Internacional de Amsterdã – cujos líderes se mostraram incapazes de acompanhar os tempos e liderar as lutas dos trabalhadores contra a guerra e o fascismo.
O surgimento de um Comitê Sindical Anglo-Soviético em 1942 afirmou o rumo tomado num contexto marcado pela generalização da guerra e a abertura da frente militar alemã contra a URSS. Anos mais tarde, em fevereiro de 1945, a Conferência Sindical Internacional se reuniu em Londres. Este processo, entretanto, foi afetado por contradições de vários tipos, mas em cuja base havia diferenças ideológicas e políticas em relação ao papel e às tarefas da classe trabalhadora.
A NOVA CORRELAÇÃO DE FORÇAS NA EUROPA
Mesmo assim, a cena internacional européia foi definida. A derrota do fascismo foi apenas o prelúdio de uma vitória vigorosa para a União Soviética. A URSS não apenas derrotou militarmente as hordas hitlerianas; também libertou grande parte da Europa Oriental e até mesmo a parte central do velho continente.
Em vários países, surgiram governos progressistas que mais tarde se tornaram verdadeiras democracias populares. Estas vitórias foram afirmadas na heróica resistência demonstrada em seu solo pelos trabalhadores e povos determinados a derrotar o governo de Hitler. Em tais lutas, os sindicatos praticamente clandestinos e suas vanguardas políticas passaram a desempenhar um papel predominante.
Na Polônia, Hungria, Tchecoslováquia, Bulgária, Romênia. Albânia, Iugoslávia e a parte oriental da Alemanha, foi possível lançar as bases para a criação de uma ordem social mais justa e humana, de um tipo socialista. Mas isto não aconteceu nos países escandinavos. Nem aconteceu na Holanda ou na Bélgica, e muito menos na França e na Itália. A parte mais ocidental da Europa – Espanha e Portugal – ainda estava nas mãos de regimes de estilo fascista que seriam derrubados muitos anos mais tarde.
No coração da Europa, verdadeiras Frentes Populares na França e Itália abriram o caminho para governos de coalizão antifascista com a participação de diferentes forças políticas nas mais altas esferas de poder. Prestigiados por sua luta heróica, os partidos comunistas – com uma tradição operária muito forte – conseguiram um papel de liderança que assustou as burguesias nacionais de ambos os países, que recorreram ao apoio dos Estados Unidos para proteger os interesses do Grande Capital.
Neste contexto, foi a França recentemente liberada e a Paris da Comuna de 1871 que acolheram os representantes deste imenso pleito de combatentes sociais de todos os cantos do planeta. Ali, a voz de Louis Saillant saudou os construtores da unidade sindical dos trabalhadores de um mundo renascido de suas cinzas.
O Congresso constituinte da FSM lançou as bases para o surgimento de uma poderosa estrutura sindical internacional; mas, além disso, definiu diretrizes e princípios e reuniu a contribuição e as experiências dos trabalhadores provenientes de diferentes cenários do processo social.
Em Paris, de fato, havia os delegados dos sindicatos soviéticos, muitos deles defensores da pátria socialista nos campos de batalha; mas também representantes dos trabalhadores dos países europeus submetidos durante várias décadas ao opprobrium nazista. Esta era a situação, sobretudo, dos trabalhadores da Alemanha, Itália, Espanha, Portugal, Romênia, Bulgária, Polônia e outros, onde durante muitos anos prevaleceram regimes extremamente reacionários e repressivos. Nesses países, desde os anos 20 e 30, não havia sindicalismo, nem estruturas sindicais independentes e de classe. A resistência laboriosa e heróica obrera¸ era ilegal e secreta, e custou muitas vidas para cada um desses povos.
Representando o emergente movimento sindical latino-americano, representantes dos trabalhadores da Argentina, Brasil, Colômbia, Cuba, Equador, Guatemala e Panamá se reuniram na capital da França. Vicente Lombardo Toledano, figura emblemática do movimento operário continental, esteve presente para representar a CTAL, a Confederação de Trabalhadores Latino-Americanos, que havia surgido pouco antes do México.
No entanto, os representantes dos sindicatos dos Estados Unidos, que eram liderados por antigos cliques viciados no domínio dos monopólios imperialistas, também chegaram na antiga Lutécia. Eles chegaram à França principalmente para aprender o que estava nascendo e para estudar como lidar com o fenômeno, a fim de enfraquecer o movimento internacional de trabalhadores e esterilizar suas lutas.
A AGRESSÃO DE CLASSE DOS CAPITALISTAS
Os grandes capitalistas e seus representantes políticos não podiam ignorar estes eventos que estavam abrindo uma nova face para o mundo da época. Eles começaram mais cedo, pois a Federação Americana do Trabalho (AFL) e o Congresso de Organizações Industriais (CIO) acusaram os sindicatos britânicos de “terem feito um pacto com os Vermelhos”; mas conseguiram uma maior dinâmica na tarefa de enfraquecer o esforço unitário dos trabalhadores, após a ascensão de Harry Truman ao governo dos Estados Unidos e o início do que mais tarde seria chamado de “guerra fria”, ou seja, o pretexto para iniciar uma ofensiva econômica, política e social contra o poder soviético e a força unitária dos trabalhadores.
Foi o Plano Marshall, a ferramenta mestre usada para minar a consciência de classe dos trabalhadores europeus e abrir um processo de confronto que levaria à ruptura da unidade sindical já em 1949. Na época, as forças mais estreitamente ligadas ao governo dos Estados Unidos e seus mecanismos operacionais apresentaram a idéia de que o Plano Marshall era apenas uma ajuda aos povos europeus afetados pela guerra.
Embora o FSM nascente tenha optado por não condenar inicialmente o Plano Marshall, deixando os sindicatos de cada país quase livres para escolher as resoluções mais adequadas às suas circunstâncias, esta decisão não foi suficiente. Em 1947, e sob a influência de Irving Brown – um conhecido agente dos serviços secretos dos Estados Unidos – foi promovida a formação de um novo Centro Sindical Internacional. Para este fim, o governo ianque tinha apenas 1.500.000 dólares para dividir o CTAL e assim minar as fundações da FSM (3)
Assim, no cenário assim criado, em 1949 foi constituída a Confederação Internacional dos Sindicatos Livres – a CISL -, que passou a ser considerada a estrutura sindical mais intimamente ligada ao Grande Capital.
A divisão, entretanto, não permaneceu apenas como um corte violento na mais alta cúpula do Poder Sindical. Em cada país houve um intenso trabalho de divisão que destruiu a unidade das centrais dos trabalhadores em vários países. Assim, na França, a CGT foi despedaçada. O que também aconteceu com a Confederação Italiana do Trabalho – CGIL – Na América Latina, para desfazer a CTAL, nasceu a chamada Organização Regional Interamericana do Trabalho – ORIT -, que é uma terrível memória em nosso continente.
OS DUROS ANOS DE LUTA DA WFTU
Quase desde então, a Federação Mundial dos Sindicatos foi atacada por dois lados. Por um lado, foi molestada pelos capitalistas através de seus instrumentos de ação. Por outro lado, ela foi sitiada pelos setores reformistas que, coniventes com o “sindicalismo amarelo”, ofereceram suas forças em benefício de seus empregadores, enfraquecendo a capacidade de ação do sindicalismo de classe.
A Federação Mundial dos Sindicatos manteve sua atividade desde sua sede em Paris até 1953, quando foi obrigada a mudar sua sede. Entre 1953 e 1956 operou em Viena, a capital da Áustria; mas em 1956 mudou sua atenção para Praga, onde operou por um longo período, entre 1956 e 2005. A partir de 2006, ela trabalhou em Atenas.
Em todos esses anos, o trabalho da WFTU foi complexo e cheio de desafios. A principal batalha, no cenário mundial, foi a luta pela paz e contra a guerra; pela unidade, solidariedade e fraternidade entre os povos; pela justiça social e contra a política de sucção dos monopólios; pelo fortalecimento dos sindicatos e pelo respeito às conquistas dos trabalhadores e à preservação de seus direitos; pela eliminação da exploração capitalista, o fim dos monopólios e o reconhecimento da soberania dos Estados; contra o colonialismo e suas expressões de domínio sobre os povos e nações; e pela integração das populações nativas e pelo respeito a suas culturas.
A luta contra o desemprego e o desemprego, a luta por salários dignos e condições de trabalho dignas e compatíveis, a defesa dos direitos da mulher e da criança, a defesa dos direitos humanos e a preservação das liberdades públicas e sindicais, contra a repressão e a tortura, o confronto e a condenação dos regimes assassinos em vários continentes, e a plena solidariedade com os trabalhadores, camponeses e estudantes onde ela é indispensável, foram, de certa forma, os grandes temas que moveram a FSM em todos estes anos.
Seus líderes ao longo deste processo foram Louis Saillant, Pierre Gensous, Sándor Gaspar, Enrique Pastorino, Ibrahim Zakaria e Alexander Zharikov. Eles atenderam com diligência responsável as questões levantadas aos sindicatos a nível internacional. Eles visitaram países, participaram de eventos, promoveram ações, receberam delegações, participaram de congressos sindicais e falaram abertamente sobre todos os assuntos.
Aqueles de nós que tiveram a oportunidade de visitar a sede da FSM durante este período, a fim de cumprir nossas responsabilidades sindicais, lembramos acima de tudo o francês Pierre Gensous, o húngaro Sándor Gaspar, e o sudanês Zakaria. Com eles, tivemos a oportunidade de compartilhar idéias entre 1969 e os anos 80. Estávamos conscientes de suas preocupações, ouvimos suas idéias, recebemos seus conselhos e opiniões e sempre lhes expressamos com franqueza e diretamente nossas observações recolhidas da luta dos trabalhadores em nossos países.
Os líderes sindicais da América Latina ainda têm em suas memórias nossas reuniões com os camaradas que serviram a região: os espanhóis Aparicio e Aliaga; os chilenos Juan Campos e Mario Navarro; estiveram atentos às nossas apreciações e exigências, e guiaram com sabedoria e critérios as ações de nossas organizações.
A FSM desempenhou um papel de destaque na Europa, mas projetou sua ação em outros cenários do planeta. Sua condenação do golpe fascista do general Suharto, que derrubou o presidente Sukarno e desencadeou uma brutal ofensiva contra o povo indonésio; a campanha de solidariedade com o povo vietnamita nos anos de guerra contra a agressão dos EUA; a solidariedade com Cuba, a bandeira permanente dos povos; e a denúncia sistemática dos planos de guerra do Império, sempre foram dignas de nota.
Os Congressos da WFTU foram uma verdadeira escola para os líderes sindicais de todos os países. Em Budapeste (1969), Varna (1974), Praga (1978) e Havana (1981) foram uma fonte inesgotável de propostas e idéias que encheram de mensagens os trabalhadores de todos os países, guiaram as lutas, desenharam estratégias e apontaram propostas para avançar nos planos mais amplos.
Nas Conferências Anuais da Organização Internacional do Trabalho, a FSM esteve sempre presente – o companheiro D’Angeli orientou as tarefas, aconselhou as posições, coordenou as ações com qualidade e compromisso.
A queda da URSS e o colapso dos regimes da Europa Oriental foi um duro golpe para o movimento sindical internacional e também para a FSM. A maior perda, é claro, é o desaparecimento do Conselho Central dos Sindicatos Soviéticos, mas também o enfraquecimento das vigorosas centrais sindicais na França e na Itália e a perda de posições de classe nas estruturas sindicais de outros países.
Em alguns casos, a confusão desempenhou um papel importante no enfraquecimento das estruturas sindicais em diferentes países. Mas em outros, foi o trabalho do inimigo que atingiu severamente a consciência proletária.
A WFTU NA AMÉRICA LATINA
Desde os anos da CTAL, a FSM está em nosso continente. Mas brilhou com sua própria luz nas décadas de 60 e 70, quando a influência da Revolução Cubana fez sentir sua presença na região.
Graças à influência de Cuba, a região deixou de ser um simples celeiro das grandes empresas americanas e se tornou um verdadeiro campo de batalha onde o povo desenvolveu inúmeras ações.
Foi precisamente a solidariedade com Cuba que esteve presente no concerto continental. Mas também abriu o caminho para a solidariedade com as lutas do povo brasileiro. Isto permitiu a realização de um Congresso Sindical Latino-Americano no Brasil naqueles anos. Ali, na tarefa de acumular forças para forjar uma Central Sindical Latino-Americana, foi formado um escritório de coordenação e solidariedade, que foi denominado Congresso Permanente de Unidade Sindical de Trabalhadores Latino-Americanos -CPUSTAL- que funcionou no Chile até 1973, com o apoio dos camaradas chilenos e a participação ativa dos líderes sindicais da Venezuela e do Uruguai. Martin J. Ramírez, da Venezuela; e Roberto Prieto, do Uruguai; juntamente com o chileno Héctor Santibáñez, desempenharam um papel fundamental na tarefa.
Devido às circunstâncias vividas no continente, não foi fácil garantir a adesão à FSM de algumas centrais sindicais. A poderosa Central Unica de Trabajadores de Chile – a CUT – não conseguiu se filiar à WFTU. Nem o PIT-CNT no Uruguai. O COB na Bolívia manteve sua neutralidade em termos de filiação internacional. Somente o CTC de Cuba e a CGTP do Peru garantiram sua filiação direta, o que nos permitiu, a partir de 1969, ter um assento no Conselho Geral da FSM que foi honrosamente coberto pelo nosso camarada Isidoro Gamarra Ramírez, Presidente da Central Sindical Peruana daquela época.
A CGTP do Peru. Desde sua reconstituição em junho de 1968, foi vinculada à FSM. Tornou-se afiliado a ela e coordenou tarefas e eventos de importância significativa. Portanto, valorizando o papel da FSM, na Tese do IV Congresso Nacional da CGTP, realizado em março de 1976, afirma-se que: “Hoje, a Federação Mundial dos Sindicatos se define como uma organização e de massas, e, portanto, democrática. Seu caráter anti-capitalista e anti-imperialista faz com que esteja resolutamente ao lado dos trabalhadores e de seus desejos de maior bem-estar, paz, liberdade, democracia e independência nacional” (4)
Entretanto, à luz do exemplo e da mensagem da FSM, foi possível trabalhar duro para levar o conteúdo geral das posições da FSM no plano mundial aos trabalhadores.
O trabalho duro de Lázaro Peña, em Cuba; Cruz Villegas e Hemmy Croes, na Venezuela; Pastor Pérez e Roso Osorio, na Colômbia; Luis Figueroa, no Chile; Simón Reyes, na Bolívia; Luis Iguiní, no Uruguai e muitos outros camaradas em todos os países da região, afirmaram esta vontade.
A luta contra o fascismo foi de especial importância em nosso continente. Isso nos permitiu enfrentar a ditadura militar brasileira de Casthello Branco, que em 1964 quebrou a fraca democracia naquele país, derrubando o governo de João Goulart; e os golpes de junho de 73 e setembro do mesmo ano, no Uruguai e no Chile, respeitosamente; assim como a ascensão da cruel ditadura de Videla na Argentina desde 1976; gerou um cenário perigoso para os trabalhadores e o povo e obrigou os sindicatos da região a lutar nas condições mais adversas.
A luta, no entanto, não tem sido fácil. Com a crise do socialismo no cenário mundial, certas posições de natureza social-democrata ganharam força que negaram as bandeiras de luta da FSM. Sob o argumento da “renovação” e “modernização” dos sindicatos, hoje existem aqueles que, com o apoio material e financeiro de ONGs ligadas à USAID, à Social Democracia ou à Democracia Cristã Internacional; pregam teorias contrárias ao sindicalismo de classe e promovem em diferentes eventos uma direção diferente daquela incentivada pela FSM. Eles procuram obsessivamente se distanciar das organizações sindicais da região, e até mesmo se desvincularem delas
Como parte desta “mensagem” eles sustentam que a luta de classes não existe mais; que o sindicalismo moderno não é um confronto, mas uma concertação; que este não é o momento para ameaças, mas para diálogo; que não é necessário levantar um sindicalismo de protesto, mas de proposta.
O fato de que em nível internacional tanto a CIOLS quanto a Confederação Mundial do Trabalho, de orientação social cristã, desapareceram e que ambas se uniram em uma única estrutura internacional, não deve ser tomado como um “passo adiante” na concertação sindical, mas apenas como uma forma de sempre confrontar as posições de classe da FSM.
Tudo isso deve ser sempre confrontado.
DIANTE DE NOVAS TAREFAS
O novo século encontrou um novo contexto em nosso continente. Praticamente desde o início do século XXI, a luz apareceu, mais uma vez, em nosso continente. Na Venezuela, surgiu o processo de emancipação bolivariana, que hoje está emergindo como o processo social mais importante da América do Sul. Mas no Brasil e na Argentina, forças progressistas têm ameaçado o Poder Imperial. Na Nicarágua, desde 2007, a Frente Sandinista, que está construindo uma nova sociedade, tomou conta do governo. E hoje, lutas duras estão sendo travadas no Equador, Colômbia, Bolívia e Chile.
As tarefas da WFTU estão definidas. Os novos quadros sindicais têm o dever de unir forças; unir setores mais amplos; vencer pela causa dos trabalhadores, os setores médios da população; atualizar os programas de luta dos trabalhadores, mas mantendo as bandeiras de classe que as velhas gerações nos deixaram.
Objetivamente, na maioria dos países da região, o movimento sindical está intacto e pronto para a batalha. (fim)
(*) Secretário-Geral da Confederação Geral dos Trabalhadores do Peru (CGTP) (1969-1976)
Notas:
1) O Movimento Internacional do Trabalho. Volume 6. Editorial Progreso. Moscou 1987
2) Ruben Iscaro. História do Movimento Sindical. Volume 1. Editorial Ciencias del Hombre. Buenos Aires. Argentina. 1973
3) Id.
4) Tese IV Congresso da CGTP. CGTP Editions, Lima. Março de 1976