Brasil: 11 de julho marcado por mobilização nacional do movimento sindical

Por Wilson Santos, 12 de julho de 2013

        BR1    O movimento sindical brasileiro realizou no último dia 11 de julho uma grande manifestação de insatisfação e reivindicação dos trabalhadores que tomaram as ruas de diversas cidades no Brasil. Apesar das divergências de linhas políticas defendidas pelas diversas centrais sindicais, sindicatos e organizações sindicais e populares, uma pequena unidade de ação demonstrou a força dos trabalhadores na luta contra a exploração patronal.

A grande apatia que tomava conta do país começou a tomar outro rumo. As grandes manifestações iniciadas pela juventude que tinham como principal bandeira a redução das tarifas de ônibus, generalizou a insatisfação e outras bandeiras foram incorporadas aos protestos, assim como a quantidade de pessoas que demonstravam seu repúdio contra a corrupção, inflação, falta de moradia decente, as privatizações dos hospitais públicos e as riquezas nacionais. A resposta que os governantes deram aos protestos populares foi novamente a repressão policial e a violência do Estado burguês. E assim, de manifestantes, os meios de comunicação, porta-vozes do capital, começaram a chamar o povo de vândalos e baderneiros. O medo dos patrões é real, pois todo povo que guarda um sentimento de exclusão social por muito tempo, tende a expressar sua insatisfação por outros meios. O tal vandalismo tão temido pela burguesia não passa de uma expressão prática da fúria dos que vivem à margem da riqueza produzida por eles mesmos.

BR2    Durante o 11 de julho o que se viu foram paralisações, bloqueios de ruas e muitos enfrentamentos com as forças repressoras do governo. Cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Santos, Uberlândia, Salvador e Recife tiveram paralisações nos transportes públicos (ônibus e metrôs), suspensão das aulas além de fechamentos de importantes autopistas que ocasionaram enormes engarrafamentos.

Uma pauta mínima unificada foi acordada entre as centrais sindicais que convocaram os atos, mas nada impediu a inclusão de outras demandas sociais. Os principais pontos da pauta foram:

•       Redução da Jornada de Trabalho para 40h semanais, sem redução de salários;

•       Contra o PL 4330, sobre Terceirização.

•       Fim do fator previdenciário;

•       10% do PIB para a Educação;

•       10% do Orçamento da União para a Saúde;

•       Transporte público e de qualidade;

•       Valorização das Aposentadorias;

•       Reforma Agrária;

•       Suspensão dos Leilões de Petróleo.

Conforme aumentava a participação dos movimentos sociais, outras reivindicações somaram-se à pauta oficial, tais como o fim das privatizações dos hospitais públicos e a luta por moradia. Organizações como os movimentos dos sem-terra, dos atingidos por barragens e dos sem-teto engrossaram as fileiras das manifestações com gritos de ordem que acusavam os governantes de ajudar mais o grande capital do que cumprir uma política social de verdade. A luta contra a criminalização dos movimentos sociais também estava entre as demandas populares, pois o Estado capitalista, independente do governo de plantão, insiste em prender, perseguir, penalizar e reprimir violentamente os que ousam se levantar contra o poder do capital.

BR3  Contudo, o oportunismo político também tentou dar linha às manifestações. Algumas centrais sindicais e organizações historicamente posicionadas no campo do reformismo contra-revolucionário tentaram pautar a luta através da conciliação de classes, ocultando o principal inimigo da classe trabalhadora e afirmando uma vez mais a necessidade de manter uma parceria patrão-trabalhador para o “bom desenvolvimento da sociedade”. Em muitos casos, defenderam o caráter reformista do estado burguês e não a sua extinção.

O caráter classista da luta dos trabalhadores foi ignorado por essas entidades que supostamente defendem os trabalhadores, mas que na realidade são a favor do sindicalismo de Estado, ou seja, em troca do reconhecimento “legal” do sindicato ou central sindical pelo governo, se submetem à lógica do sindicalismo regulado e financiado pelo Estado. Afinal só de imposto sindical essas entidades receberam do governo em 2012 aproximadamente 141 milhões de reais. Para os dirigentes dessas entidades não lhes interessa lutar realmente contra o Estado que lhes sustenta. Na prática, um sindicato ou central sindical “legal”, reconhecida oficialmente pelo Ministério do Trabalho, tem o direito de receber esse dinheiro independente da sua atuação na porta da fábrica, ou melhor, da sua  atuação, pois esse imposto sindical é descontado diretamente do salário do trabalhador sem o seu consentimento. Outra característica da estrutura sindical atual no Brasil, que por incrível que pareça é a mesma desde 1930 (ditadura de Getúlio Vargas), é a unicidade sindical e a investidura sindical. Isso deu ao Estado o controle sobre quem representará os trabalhadores de uma determinada categoria nas negociações com os patrões, tirando a legitimidade dos trabalhadores de decidirem quem realmente os representa, pois é o Estado quem autoriza a criação e a representação desse sindicato. A conseqüência é previsível: um sindicato/central sindical atrelado ao Estado (pois o conflito leva à perda do registro “legal” e do imposto sindical) e o uso indevido do imposto sindical para cooptação de lideranças sindicais e financiamento de campanhas políticas eleitorais.

Infelizmente, o grito mais importante para a libertação da classe trabalhadora da escravidão assalariada do capital não atingiu a consciência e organização necessária para a luta contra a exploração capitalista. A organização classista dos trabalhadores contra o poder do capital não pode continuar por vias reformistas e conciliadoras. A luta contra a exploração capitalista tem que passar pela tomada do poder pelos trabalhadores por meio da luta de classes. O horizonte viável para a realização de todas as reivindicações populares só será possível com a destruição do velho Estado capitalista e a construção de uma nova ordem social e econômica baseada no fim da propriedade privada dos meios de produção e na distribuição real da riqueza para os trabalhadores.

BR4O 11 de julho demonstrou a insatisfação dos trabalhadores, agora resta às organizações revolucionárias difundir a ideologia classista para as massas, organizando-as para a tomada definitiva do poder. Sem conciliação com a classe exploradora.

** fotos tiradas durante a manifestação em Uberlândia/MG no dia 11 de julho.

 

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